sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Humanidade causou aquecimento, diz relatório da ONU

Por Gerard Wynn e Alister Doyle

PARIS (Reuters) - A humanidade é responsável pelo aquecimento global, disseram na sexta-feira os principais especialistas mundiais em clima, enviando aos governos um alerta "cristalino" sobre a necessidade de agir urgentemente para evitar danos graves e irreversíveis.

O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática da ONU, que reúne 2.500 cientistas de mais de 130 países, previu que haverá mais secas, ondas de calor e um lento avançar dos mares, que poderiam durar mais de um milênio, mesmo que as emissões de gases do efeito estufa sejam limitadas.

A "melhor estimativa" da comissão é um aumento de 1,8 graus Celsius a 4,0 graus Celsius ao longo deste século.
"Diante desta emergência, não é hora de meias-medidas. É hora de uma revolução, no verdadeiro sentido do termo", afirmou o presidente da França, Jacques Chirac. "Estamos na verdade às portas históricas do irreversível."

Os cientistas disseram ser "muito provável" -- ou mais de 90 por cento de certeza -- que as atividades humanas, especialmente a queima de combustíveis fósseis nos últimos 50 anos, sejam a principal causa do aquecimento global.
O relatório anterior do Painel, de 2001, considerava apenas "provável" a causa humana do aquecimento, ou uma certeza de 66 por cento.

Entre os possíveis sinais já registrados do aquecimento estão a seca na Austrália, a falta de frio neste inverno europeu.
Muitos governos, agências da ONU e grupos ambientais propuseram uma ampliação do Protocolo de Kyoto, que obriga 35 países industrializados a reduzirem suas emissões de carbono, mas exclui os dois maiores poluidores do mundo, Estados Unidos e China.

"O sinal que recebemos dos cientistas hoje é cristalino e é importante que a reação política também seja cristalina", disse o chefe do Secretariado do Clima da ONU, Yvo de Boer, propondo uma cúpula ambiental de emergência ainda neste ano.

DEGELO ÁRTICO
O sumário de 21 páginas das conclusões do Painel destaca fatos estarrecedores, como o de que até 2100 que não haverá mais gelo durante os verões no Ártico e de que o aquecimento provavelmente já está tornando os ciclones tropicais mais intensos.

O texto projeta um aumento de 18 a 59 centímetros no nível dos oceanos neste século, mas afirma que o valor pode ser ainda maior dependendo do derretimento do gelo sobre as terras da Antártida e Groenlândia. A subida dos mares pode representar o fim de cidades litorâneas de Xangai a Buenos Aires.

As temperaturas subiram 0,7 graus Celsius no século 20, e os dez anos mais quentes desde o início dos registros, em meados do século 19, aconteceram todos a partir de 1994.
O efeito estufa é provocado pela emissão de gases que retém o calor na atmosfera. O principal desses gases é o dióxido de carbono, presente na fumaça de carros, fábricas e usinas termelétricas.

O governo dos Estados Unidos, país que mais emite carbono na atmosfera, abandonou o Protocolo de Kyoto porque defende uma política menos rígida de controle das emissões, embora a oposição democrata, que agora controla o Congresso, queira regras mais severas.

O presidente de Kiribati, país formado por 33 atóis de corais no Pacífico, disse que o tempo está se esgotando -- principalmente para nações como a sua, ameaçada pelo avanço dos oceanos. "A questão é: o que podemos fazer agora? Há pouquíssimo que podemos fazer para parar este processo", disse o presidente Anote Tong
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