sábado, setembro 01, 2007

Agora os burgueses estão contra o automóvel!


o carro não é mais um privilégio das dondocas
Estou ouvindo negro Drama dos Racionais, quer mais?
Eu estudei numa universidade federal, UnB, e sempre vi que os filhos da elite quando passavam no vestibular ganhavam um carro, veja você. Me perturbava muito o fato de que numa universidade, onde os calouros tinham 17, 18 anos, os estacionamentos eram lotados! O carro sempre foi um instrumento de poder e status da burguesia. Muitos anúncios publicitários, aqui e alhures, faziam e fazem referência ao vestibular aludindo `a anedota de que o garoto vai ganhar um carro zero por ter passado no vestiba, além de raspar a cabeça (detalhe).
Lembro-me de um texto de um articulista de Carta Capital, com um nome eslavo muito complicado, que dizia que o playboy-tira-onda, e assassino, que vemos no trânsito é fruto de nossa mentalidade doente. O automóvel, quando era um bem dos muito privilegiados, servia como joguete para os burgueses afrontarem quem caminhava pelas avenidas, antes feitas para os cavalos e os pedestres. Os que tinham carro passaram, então, a jogá-los contra os que “invadiam” as ruas. E até hoje é assim. Pois bem.
Acabo de ler um artigo no blog do Noblat, esse feiticeiro, uma crítica ao automóvel! Ora, direis, ouvir estrelas? O texto é assinado por uma pós-doutora em engenharia química - a velha fórmula subdesenvolvida do especialista que fala porque tem PHD e pedigree - faço uma ressalva para dizer que o melhor presidente que este país já teve é semi-analfabeto! E o que dizia esse artigo, veja uns trechos muito significativos: “Ela chama (cita Noblat) a atenção para o caso da produção de aço em seu estado (MS), que majoritariamente se destina à produção automotiva, denunciado (sic) a relação entre o consumo de recursos naturais para produção do aço, o ‘sucesso’ da indústria automobilística e o papel do governo brasileiro nessa tragédia do desmatamento, mostrando que o tipo de crescimento viabilizado econômica e politicamente pelo Estado é a mãe da maioria das tragédias nacionais”.
Quer saber porque ela formulou esse eloqüente diagnóstico? Porque, no Brasil, os pobres, ou quase isso, estão podendo comprar automóvel! O fato de o Brasil está vendendo muitos automóveis não é sinal de desenvolvimento, é sinal de atraso, diz a doutora, em seu laptop acoplado ao seu carrão! Mas eu li, em todos os jornalões, a alegoria de que a China mostrava para o mundo que crescia com vigor porque a imagem das anacrônicas bicicletas estavam sendo substituídas por automóveis! Então o automóvel na China é sinal de progresso, no Brasil do monoglota Lula da Silva é exatamente o contrário?
Na semana passada, um editorial do Jornal de Brasília (como escrevem mal e porcamente os nossos editorialistas) contava uma expressiva anedota: O editorialista estava em um bar e chegou um vendedor de amendoim, passou pelas mesas, vendeu e depois “abriu o porta-malas de seu Celta zerinho” e depositou ali os amendoins e seguiu para outro bar. A cena fez o “filósofo” pensar nos engarrafamentos, veja você, e que tem automóveis demais nas ruas, “até um comprador de amendoim já tem um carro”, disse o escriba espantado. Ele então propôs que o governo investisse mais em transporte público! Ou seja, enquanto ele e os amiguinhos dele estavam indo e vindo de automóvel os engarrafamentos eram suportáveis, mas que um vendedor de amendoim tivesse carro e parasse ao lado dele em um engarrafamento já era demais.
Não querendo admitir preconceito social, agora inventaram preocupação ambiental. Que se dane que no mundo inteiro vendam toneladas e zilhões de automóveis, no Brasil, carro vendido pra pobre polui e desmata. Acompanhe o raciocínio da pós-doutora: “Todos os dias, são derrubadas mais de 120.000 árvores da floresta amazônica para sustentar os fornos do pólo siderúrgico de Carajás (para produzir automóveis), situado no sul do estado do Pará. Por isso, aquela região é conhecida como o Arco do Desmatamento da Amazônia, que inclui também o sul do estado do Maranhão, e onde está ocorrendo a maior devastação da floresta amazônica”. E ela escreveu esse monstrengo no jornal da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência! Ou seja, o carro dela, do filho dela que passou no vestiba e o carro dos amiguinhos dela nunca devastaram nada, mas agora que Lula inventou de vender carro zero pra vendedor de amendoim...
Quando Collor abriu o mercado brasileiro para chicletes e carrões importados todos aplaudiram, agora que os carros 1.0 começaram a ser vendidos a rodo a sociedade quer metrô, trem e ônibus de qualidade, senão a empregada chega de carro e joga por terra o status da dondoca motorizada. O povo passou a comer melhor, daqui a pouco aparecerá uma pós-doutora ambientalista perguntando se vamos permitir desmatar o Brasil para produzir comida pra essa gente desdentada. Diabos, por que a gente não tem um Voltaire?

Lelê Teles.

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