sábado, janeiro 12, 2008

Entrevista KORZUS (1987 parte 02)

Outra entrevista que esta disponivel no site da Revista Roadie Crew desta maravilhosa banda e seu classico "Sonho Maniaco"


Por Ricardo Batalha

Mudanças na formação, um som cada vez mais extremo, letras carregadas e uma grande tragédia. Em meio a esta situação, o Korzus foi do céu ao inferno na época do lançamento de seu primeiro álbum de estúdio, Sonho Maníaco. Quem conta todos os detalhes e curiosidades é o vocalista Marcello Pompeu.

Como estava o Korzus após as mudanças de formação na época do Sonho Maníaco, antes e depois do lançamento?
Marcello Pompeu: Antes éramos um quinteto, a mesma formação do 'SP Metal 2' e a banda estava unida. Tínhamos acabado de conhecer bandas como Slayer, Satan, Accept, Anvil, Venom, entre outras. Começamos a trabalhar mais para o lado obscuro, o Black Metal. Aí o guitarrista Toperman e o baterista Brian saíram e o Zema deixou o Ethan para se juntar ao Korzus. A banda se tornou o quarteto mais brutal, insano e diabólico de São Paulo. Começamos a compor nessa linha Black Metal em português, as músicas tomaram um corpo e a banda um estilo que ainda não existia no Brasil, com viradas de ritmos e quebradas - influências diretas do Zema. Compusemos o álbum e assinamos com a Devil Discos um contrato mais decente. Parecia que o mundo era lindo... digo .... negro!.

Conte como se deu a produção do Sonho Maníaco? Como foram as gravações em estúdio? Qual estúdio vocês usaram, como era o nível dos equipamentos, quem comandou a mesa de som, quanto tempo durou a gravação, o desenho da arte da capa...
Pompeu: A produção ficou a cargo do Edy Bianchi, que era técnico de som do Inox - banda do Paulinho Heavy da TV Cultura -, talvez o primeiro produtor de Heavy do Brasil. Gravamos no Guidon, um 'big' estúdio para o nosso momento. Porém, as pessoas envolvidas não estavam capacitadas para o som rápido, principalmente o estúdio que naquela época trabalhava com evangélicos. Imagine quatro cabeludos muito loucos blasfemando em um estúdio de crente? Bizarro! O estúdio tinha um equipamento de ponta e tudo foi gravado em 2 polegadas analógicas, mas a sala de gravação era muito grande e com uma acústica horrorosa. Ficamos por volta de dois meses fazendo o disco todo. A capa foi criação do Dick e representa um sonho ou pesadelo meio embaralhado para dar a sensação de loucura total. Eram desenhos interligados e tinha até o Freddy Krueger (risos).

Com relação à temática, o Korzus adotou uma linha satânica no Sonho Maníaco, que caberia bem no contexto do Black Metal. Por que resolveram seguir este caminho?
Pompeu: Porque na época era o que achávamos que o Metal representava para a gente. Nós ouvíamos muito Venom, Slayer, Mercyful Fate e em todos os encartes dos LPs as palavras 'evil', 'satan' e 'hell' eram constantes, então...

Qual a sua análise a respeito do resultado final do Sonho Maníaco?
Pompeu: Deixou muito a desejar. Hoje tenho estúdio, sou produtor e sei o quanto o disco é mal gravado e mal mixado. Bem, para a época eu não sei dizer ao certo, mas sempre achava estranho quando ouvia o Sonho Maníaco depois do Hell Awaits do Slayer. Esperávamos que ficasse no naipe do Hell Awaits, mas não havia suporte técnico humano capaz de pilotar uma banda de Metal decentemente aqui. Até tinha bons estúdios, mas não havia técnicos com conhecimento real do que era o Heavy Metal.
Como foi a receptividade do disco?
Pompeu: A receptividade foi muito boa! Realmente esse disco nos colocou como uma das principais bandas do gênero no Brasil e fomos comparados ao Slayer por muitos anos. As críticas foram boas, a gravadora vendeu bem esse disco e começamos a tocar fora do estado de São Paulo.
Como foram os shows de promoção e divulgação do Sonho Maníaco? Lembro de ter visto de perto vários, incluindo o show no Teatro Mambembe que, felizmente, eu acabei filmando e as imagens constaram no DVD Korzus: Vídeo História...
Pompeu: Naquela época não havia esse papo de shows de promoção, tour, pois isso não fazia parte do vocábulario das bandas. Nós, assim como todas as bandas dos anos 80, tocávamos onde éramos chamados e marcavamos datas em bares e teatros em São Paulo. Se tivesse data a gente tava lá. Quanto ao show do Mambembe, foi um lance muito louco. Tocamos com o Destroyer, que se não me engano o Robson Goulart (ex-Performances), vocalista deles, levou umas porradas de um banger que subiu no palco do nada! Foi foda! De resto foi bem legal e os shows no Mambembe sempre lotavam.

Naquele época o Korzus tinha o apelido de "Slayer brasileiro". O Slayer havia lançado o Reign In Blood um ano antes, abrindo o disco com Angel Of Death. No ano seguinte o Korzus lançou o Sonho Maníaco, abrindo o disco com a faixa Anjo do Mal. Isto foi coincidência ou algo proposital, como se fosse um tributo aos seus "mestres"?
Pompeu: Olha, a Anjo do Mal é bem mais velha que a Angel Of Death. Se você quer saber, esta música foi composta ainda com o Brian e o Toperman na época do disco ao vivo. Foi a única daquele repertório que ficou no Sonho Maníaco. Acho que o Slayer copiou a gente (risos). Aliás, o que já jogamos fora e descartamos músicas porque outras bandas gravaram antes da gente você não faz idéia! Se eu falar o nome das bandas então você vai ficar assustado...

Como você analisa o papel de Sonho Maníaco na trajetória do Korzus, visto que logo depois vocês passaram a compor em inglês?
Pompeu: Foi um disco importante pra gente ver que falar do capeta dava azar! Se for falar disso tem que saber o que diz e o Sonho Maníaco é muito pesado com as letras. A mudança de idioma veio com a ascendência do Sepultura no exterior e percebemos que o caminho era aquele. Nada contra o português.
Parece que hoje em dia está havendo um resgate às raízes do Metal em português. Por que vocês nunca mais incluíram uma faixa do Sonho Maníaco nos shows? O suicídio do baterista Zema Paes, justamente em um álbum que tem uma faixa chamada Suicídio, influenciou nesta decisão?
Pompeu: Como falei antes, nós temos resultado de causa para ter tomado essa decisão. Temos resultado de causa para ter tomado essa decisão! Você grava um disco Black Metal em 1987, ele contém letras satânicas no máximo do surrealismo, sai em julho e seu baterista - que adorava a música Suicídio - se mata em outubro! Eu pergunto: por que continuar com essas músicas?! Eu que tenho a palavra sobre o palco e essas letras eram viagens de moleque que nunca fizeram e nem fazem parte da minha vida. Me recuso a cantá-las, pois muitos jovens acreditavam que éramos os novos anti-cristo, sacerdotes satânicos... Nos procuravam como se fossemos semi-deuses. Foi foda!
Conte como estava a cena nacional há vinte anos? Conte um pouco para os nossos leitores e os fãs da nova geração que não viveram aquela época quais bandas vocês tinham ligação, quais casas de shows/bares/eventos havia naquela fase e como era a cena para vocês do Korzus...
Pompeu: Havia mesmo muita união. Todos eram amigos e ficavam para ver até a última banda nos eventos. As bandas indicavam umas às outras quando ia acontecer um festival, era muito legal! Muitas garotas atrás da gente (risos). Éramos amigos de todos! Com o passar dos anos as coisas esfriaram em termos de amizade, mas até porque o Metal cresceu muito e o profissionalismo nasceu nas bandas, já que não havia a profissão de músico Metal em 1987.
O movivento de sampa era Black Jack Bar, Rainbow Bar, Teatro Lira Paulistana, Mambembe, Bixiga, festas Metal na casa de alguém, loja Woodstock Discos no centrão de sábado à tarde, Fofinho, LedSlay, Carbono 14, Madame Satã, esses picos...

Como está o Korzus atualmente? Quais os planos da banda?
Pompeu: Estamos compondo o novo disco, que deverá ser lançado em 2008. Estamos fazendo alguns shows, mas não é prioridade do momento, pois continuamos com nosso trabalho visando o novo CD, que inclusive será marcado por uma festa de 25 anos de banda! Temos a certeza que será o disco mais nervoso da nossa carreira e quem gostou do Ties of Blood vai pirar com o próximo!


KORZUS - SONHO MANÍACO
SONHO MANÍACO"

COMENTADO FAIXA A FAIXA:
1-ANJO DO MAL: A letra veio mais ou menos de um sonho que tive. A música é veloz, beirando ao extremo. O grito do começo foi feito por um 'brother' nosso, o Bellotão, na linha de Angel of Death do Slayer. Com certeza era a música mais pedida pelos fãs da época.

2-JUÍZO FINAL: Muita blasfêmia. Um aviso da dominação de satã no planeta terra, algo como uma profecia. A metáfora mais intrigante é sobre essas guerras que atingem o Golfo e países árabes onde começaria o juízo final.

3-SUICÍDIO: Talvez a menos satânica em questão de letra. Ela tem uma levada mais valsa, sei lá.. Um andamento diferente em relação ao total do disco que é paulada do começo ao fim. É a música que coincidentemente o Zema mais gostava.

4-CAMINHANDO NAS TREVAS: Um começo bem cavalgado, marca do Metal dos anos 80. Aí muda pra paulada insana, com um final com muitas vozes blasfemando, dando um ar de mensagem satânica. Nunca tive coragem de virar o disco ao contrário nessa hora!

5-SONHO MANÍACO: A letra é uma metáfora, mas na realidade eu fiz para uma ex-namorada minha. Ela era um sonho pra mim na época. Tomei um pé na bunda pra ficar esperto e, em meio a toda tristeza, escrevi essa letra como desabafo. Na época a gente não falava muito dessas coisas com os amigos e familiares, até porque éramos bangers do mal e não caía bem ficar chorando por namorada (risos). É mais uma paulada do disco, talvez a mais rápida!

6-GUERRA NUCLEAR: Era o assunto da época. EUA X União Soviética, quem apertaria o botão primeiro? Nessa letra adivinha quem apertou? Nem os EUA e nem os soviéticos, quem apertou foi o capeta! A música era uma epopéia. Vários andamentos, várias bases loucas, solos de bombardeios. É muito louca essa música! Aliás, não tenho nada contra as músicas, as bases, as batidas, o que não curto são as letras!

7-PARAÍSO DA MORTE: Sempre o capeta domina o mundo e os governates são marionetes do mal, querem que todo mundo vá pra puta que te pariu, como diz o refrão... Ah, tem o começo que a mina fica gemendo... Foi uma ex-namorada do Dick quem gravou. Foi muito louco! Apagamos toda sala de gravação e ele desceu lá com ela pra dar uma força na veracidade dos gemidos (risos).

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