quarta-feira, agosto 06, 2008

Há solução para o conflito entre palestinos e israelenses?

Materia retirada da Revista Superinteressante

Há solução para o conflito entre palestinos e israelenses?

Por Bárbara Soalheiro e Mariana Iwakura

Ninguém pode dizer com certeza. O que se sabe é que o único plano oficial de paz em vigor, o Mapa da Rota (proposto em abril de 2003 por Rússia, União Européia, Estados Unidos e ONU), está estagnado. Nem a primeira ação - o cessar-fogo dos dois lados - foi cumprida e especialistas começavam a achar que o Mapa podia tomar o rumo do Acordo de Oslo, de 1993, que foi abandonado. "Com a morte de Yasser Arafat, as negociações devem ser retomadas", diz o historiador Amatzia Baram, da Universidade de Haifa, em Israel.

O problema é que o Mapa não discute as fronteiras dos dois Estados nem prevê soluções para as questões polêmicas. Ele é mais um conjunto de diretrizes para chegar a um cenário de paz e, assim, tornar possível a discussão de um plano permanente. Para Baram, a paz vai depender da disposição dos governos em fazer concessões, uma área em que nenhum dos lados tem muita experiência.

Além de autoridades pouco dispostas a ceder, o conflito reúne outros dois problemas: radicalismo religioso e ódio cultivado por décadas entre dois grupos dividindo uma minúscula área geográfica. "Para chegar à paz é preciso esquecer o passado e pensar no futuro", diz o especialista em relações árabe-israelenses Scott Lasensky, do Instituto da Paz, uma organização americana.

Grupos moderados dos dois lados tentam mostrar que isso é possível. Na chamada Iniciativa de Genebra, assinada em junho de 2003 por políticos pacifistas palestinos e israelenses, todos os assuntos polêmicos foram discutidos e os dois lados abriram mão de algum ponto importante. Mas os governos não apoiaram o plano.

As tentativas frustradas de chegar a um acordo começam a desanimar muitos analistas. "Não vejo possibilidade de resolução do conflito a curto e médio prazo. Estou pessimista", diz o historiador André Gattaz, autor do livro A Guerra da Palestina. Mas há quem pense diferente. "O novo rumo da política palestina [haverá eleições em janeiro] vai abrir uma porta. É impossível saber se do outro lado há paz ou guerra", diz Baram. "Mas pelo menos há esperança."

POUCO CONSENSO

Os grupos envolvidos no conflito discordam nos pontos essenciais

Radicais palestinos
Grupos religiosos extremistas como Hamas (Movimento da Resistência Islâmica) e Jihad Islâmica são contra o Estado de Israel e pregam a guerra para impedir qualquer concessão

Governo palestino
A Autoridade Nacional Palestina foi criada em 1993. Em 1996, Arafat foi eleito presidente por cinco anos, mas só saiu no último mês, ao morrer. Deve haver eleições em janeiro

Moderados
A Iniciativa de Genebra reúne as propostas de grupos civis e políticos moderados israelenses e palestinos. Recebeu o apoio de vários líderes mundiais

Governo de Israel
Ariel Sharon foi eleito em 2001 pelo partido de direita Likud. Durante seu governo, as negociações de paz foram congeladas e o número de assentamentos cresceu

Radicais israelenses
Vivem em assentamentos em Gaza e Cisjordânia. Não aceitam fazer concessões. Em 1995, um radical assassinou o primeiro-ministro de Israel Yitzhak Rabin por considerá-lo muito brando

RETORNO DOS REFUGIADOS

600 mil palestinos expulsos em 1948 lutam pelo direito de voltar a Israel com seus descendentes, hoje 4 milhões de pessoas

Radicais palestinos - a favor: Pregam a expulsão dos judeus e a volta de todos os refugiados para onde hoje é Israel

Governo palestino - a favor: Luta pelo direito de retorno dos refugiados e seus descendentes às antigas casas, onde hoje é Israel

Moderados - contra: Os refugiados retornariam ao Estado palestino, mas não às antigas casas em Israel

Governo de Israel - contra: Israel tem 5,3 milhões de habitantes judeus. O retorno tornaria o país um Estado de maioria muçulmana

Radicais israelenses - contra: Defendem a expulsão dos palestinos que vivem em Gaza e Cisjordânia para outros países árabes

DIVISÃO DE JERUSALÉM

Jerusalém é uma cidade sagrada para os dois povos, que a reivindicam como sua capital

Radicais palestinos - contra: Rejeitam o Estado de Israel e, portanto, a divisão de sua capital

Governo palestino - a favor: Jerusalém Oriental, onde estão os locais sagrados dos muçulmanos, seria a capital da Palestina

Moderados - a favor: Jerusalém Oriental sod domínio palestino e Jerusalém Ocidental sob domínio israelense

Governo de Israel - Contra: Tanto a parte oriental quanto a ocidental abrigam locais sagrados para os judeus

Radicais israelenses - contra: Acreditam que Jerusalém é a capital israelense indivisível

CRIAÇÃO DA PALESTINA

A criação de um Estado autônomo palestino esbarra na falta de consenso sobre as fronteiras

Radicais palestinos - a favor: Querem a criação de um Estado islâmico com as fronteiras pré-1948 e pregam a guerra contra os judeus

Governo palestino - a favor: Quer recuperar Jerusalém Oriental, Faixa de Gaza e Cisjordânia, territórios ocupados por Israel em 1967

Moderados - a favor: A Palestina seria um Estado desmilitarizado e receberia 97,5% do território perdido em 1967

Governo de Israel - a favor: Não há fronteiras precisas. É possível que Israel forçe os limites para longe de Haifa, Tel-Aviv e do rio Jordão

Radicais israelenses - contra: Rejeitam a criação de um Estado palestino e não estão dispostos a fazer qualquer concessão

ASSENTAMENTOS JUDAICOS

Quase 400 mil israelenses vivem em assentamentos dentro do território reivindicado pelos palestinos

Radicais palestinos - contra: Exigem o fim dos assentamentos judaicos e da ocupação israelense em Gaza e Cisjordânia

Governo palestino - contra: Exige que os colonos israelenses sejam retirados da Faixa de Gaza e da Cisjordânia

Moderados - contra: Exige o fim dos assentamentos, pois estão localizados nas áreas onde seria a Palestina

Governo de Israel - a favor: Propôs retirar os assentamentos da Faixa de Gaza, mas quer manter a maior parte na Cisjordânia

Radicais israelenses - a favor: Acreditam que toda a área entre o Mar Morto e o Mar Mediterrâneo é terra santa prometida a eles

Por que não é viável

Radicais palestinos - A existência de Israel foi determinada pela ONU e é reconhecida pela maioria dos países do mundo

Governo palestino - Com Arafat no poder, a ANP estagnou o processo de paz e vinha perdendo força para os grupos radicais terroristas

Moderados - Apesar do apoio mundial, foi repudiado pelos governantes dos dois lados porque exigia que eles fizessem concessões

Governo de Israel - O governo de Israel não estava disposto a negociar com Arafat (mesmo a prospota de sair dos assentamentos foi unilateral)

Radicais israelenses - O direito palestino a um Estado é reconhecido pela ONU e por grande parteda sociedade israelense

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