segunda-feira, dezembro 03, 2007

Mistérios no Planalto Central

POR TOMAZ (editor do zine oficial)

Mistérios no Planalto Central e jogo de bastidores na política de incentivo à cultura no DF e Entorno

Muitas coisas são mais difícieis de se explicar do que casos como os do E.T. de Varginha, em Minas Gerais, ou as coincidências astrais que culminaram com a construção de Brasília, de onde jorraria "leite e mel", segundo o sonho-profecia de Dom Bosco. Essa época Natalina mexe com a cabeça de muita gente, que faz planos para mudar a sorte no Ano Novo, assim como fizeram os candangos nessa região outrora inóspita. Baseados nas promessas e sonhos que invadem as mentes esperançosas, resolvemos aproveitar a visita da banda paulista "Invasores de Cérebro" ao Planalto Central, terra com carregada cultura mística e ufanista, para tentar encontrar uma definição apropriada sobre o que realmente são "Invasores de Cérebro" , comentando alguns mistérios sobre a política local, a produção de eventos com recursos provenientes de fundos de incentivo à cultura e a mentalidade do público no apoio ao underground.

Invasores de cérebro seriam seres bem intencionados ou chupa-cabras jogando sujo para alienar nossa consciência, submeter nossas vontades e sugar nosso suor? Muitos candidatos poderiam encaixar-se perfeitamente nessa segunda definição. Promessas políticas trouxeram brasileiros de todos os cantos para o cerrado do Planalto Central. A maioria deu todo seu suor, mas poucos aproiveitaram o "leite e mel" profetizados por Dom bosco.

Isso tem relação, sim, com o histórico show da banda "Invasores de Cérebro" dia 08 de dezembro de 2007 no Teatro Galpãozinho, ao lado da rodoviária do Gama, com abertura das bandas locais A.R.D., Kanibias, Terror Revolucionário, Faces do Caos e Señores, de Goiânia. É mais um evento que conta apenas com a bilheteria para pagar seus custos. A cessão do Teatro Galpãozinho do Gama junto à administração regional, o engajamento das próprias bandas e a adesão de alguns apoiadores aliviam um pouco as despesas, mas vemos que outros eventos têm tratamento privilegiado, principalmente no Plano Piloto.

Então, é só no Plano que tem "leite e mel"? Não, não. Observamos o crescente apoio de políticos em panfletos de shows undergrounds pelo Entorno e suas promessas de incentivo às produções da região, mas é preciso lembrar que 2008 tem eleições municipais. Além do apoio financeiro momentâneo, é fundamental cobrar propostas duradouras e fiscalização na distribuição de recursos após as eleições, evitando dados viciados e “esquemões” nas Prefeituras.

Recentemente, denúncias contra produtores do DF e uma funcionária do Ministério da Cultura colocaram a pulga atrás da orelha de muita gente. Quem nunca consegue ser contemplado com recursos públicos do DF, como o Fundo de Apoio à Cultural, da Secretaria de Cultura, também passou a suspeitar de cartas marcadas nesse baralho.

O FAC é importantíssimo para viabilização de muitos projetos. Se há desconfiança, as queixas devem ser endereçadas aos órgãos competentes, de forma séria, como fizeram aqueles que denunciaram o suposto esquema no MinC em favor do Porão do Rock, o maior festival de rock do DF. Não estamos aproveitando esta edição para fazer juízo. Há bastante coisa a ser apurada e a leviandade não faz parte da linha editorial do Zine Oficial, que completa o ano de 2007 com sua décima terceira edição sainda da gráfica, mesmo com todas as dificuldades para tornar-se auto sustentável, mantendo a independência e a liberdade de expressão.

O número 13 estampado em nossa capa traz em baixo a mensagem: “Que 2008 nos traga atitude para não precisarmos apelar para sorte.” Sorte de favores. 13 é um número que pode significar sorte ou azar. 13 é o último número impresso do Zine Oficial em 2007. 13 é também o número de registro do partido do Lula, dono do cargo mais cobiçado por todos os outros partidos políticos que estão no jogo pelo poder. A coincidência nos levou à análise das duas faces do 13. Quando o sapo virou “rei”, sua sorte mudou. Muitos que perseguiam o peão barbudo passaram a bajular o mandatário de barba grisalha bem aparada. Assim acontece em todas as esferas de poder, infelizmente.

A possibilidade de retorno político ou financeiro é o principal critério dos espertalhões que jogam com a sorte em vésperas de eleições e nos gabinetes, infiltrados em diversos partidos, de esquerda e de direita. Não têm identificação ideológica alguma nem propostas, só querem estar por dentro do "cérebro" da gestão de recursos.

2007 teve shows com várias atrações nacionais e internacionais no circuito underground, sem o mínimo crédito dos fundos de apoio à cultura ou apoio direto de representantes eleitos. Salvo a cessão de espaços como o Teatro Galpãozinho do Gama, pouca coisa foi oferecida. Alguns eventos têm mesmo a intenção de não criar maiores vínculos com o poder público. Muitos produtores não querem nem cadastrar-se como “agentes culturais”. A verdade é que alguns não conseguem os pré-requisitos legais para o pleito. Se um projeto não está nos padrões estabelecidos por uma minoria ou nas graças da grande mídia, dificilmente passa, e isso desestimula a turma. Defendemos que o desânimo não vai virar o jogo. Tem muita gente séria dentro do carteado público-político, mas cada rodada na captação de recursos só será limpa com olhar atento de todos. Não dá para piscar. Apenas a participação e a fiscalização de cada vez mais interessados podem inibir a ação daqueles que insistem em manipular as cartas, daí a importância de apresentar projetos e acompanhar seu trâmite. Um único elemento pode embaralhar vários processos.

O Distrito Federal, terra de "leite e mel", não terá eleições em 2008. Porém, as partidas por votos vão envolver todos os municípios do Entorno, onde a falta de projetos como o FAC dificulta ainda mais o acesso ao incentivo público para produções. 2008 é o momento de exijir uma política cultural ampla para os próximos anos, sem agarrar-se a promessas vazias. Se desejar anular o seu voto, como muitos pregam, lembre-se das palavras do retirante nordestino Luiz da Silva, que mudou a própria sorte: “Quem não gosta de política vai acabar sendo governado por quem gosta”.

O importante é ter consciência sempre. Cada cabeça é um guia. Informe-se, leia muito, produza suas músicas, seus shows, seus fanzines e compareça aos shows para divertir-se e bater papo. Compartilhar e amadurecer idéias é sempre melhor que submeter-se passivamente às dos outros. Um cérebro forte, ninguém invade, a não ser que sejam "Invasores de Cérebro" com uma formação bem nervosa, com momentos que vão do mais pogante punk rock até o mais violento hardcore. Esse será o show que encerrará as edições impressas do Zine Oficial em 2007, com produção da nossa colaboradora Bárbara Cólera. Compareça e contribua comprando o ingresso para viabilizar futuras produções do underground, ao invés de querer ficar entrando de graça. É preciso mudar a mentalidade. Muitos eventos só vão continuar acontecendo com o seu apoio. Valeu e feliz 2008!

Tomaz (editorial do Zine Oficial número 13)

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