terça-feira, fevereiro 05, 2008

"A primeira vez, sempre é uma desgraça!"


Por Gilmar Batista, vocalista da lendária banda punk/hardcore A.R.D. (Gama/DF)


Tomaz me pediu que o ajudasse resenhando o show da aventura Brasília-Unaí-Paracatu. Fui à luta e, apesar de ter sabido disso somente depois do show mortal do “local” Murro no Olho, gostaria de tecer breves comentários sobre essa moçada, que leva com total destreza o “punk da morte”. Set curto e grosso, mas suficiente para valer à pena cada segundo. Mesmo com o amp dando pau o tempo total, sendo reanimado à base de porrada. A estreante Amanda (baixo) mandou ver, não se intimidando com o clima agressivo e apertado do ambiente. Mas voltemos à minha estréia como resenhista. Comecei com Death Slam. Grande responsa, comentar o show dessa macacada velha de guerra (em outras palavras: é preciso mesmo comentar?)


O espaço do show: um bar de esquina em uma movimentada avenida com ônibus (linha Expansão) e tráfego intenso. Para piorar a situação, risco total de atropelamento. O bar, em si, é o sonho de qualquer banda underground - fede a mijo e a lama dá no joelho. Somado a isso, havia o risco de choque elétrico, pois os cabos do equipamento misturavam-se à lama de cerveja, panfletos e guimbas de cigarro, em um espaço de oito metros quadrados. Uma mistura perfeita para a “desgraçeira total” (frase predileta do batera Juliano).


A platéia: assustada pela invasão de 40 cabeçudos feios do DF.


O Palco: que palco? Bom mesmo é tocar no nível da platéia, rente ao chão. Na cozinha, Juliano compondo matizes com fundo azul da lona que isolava acusticamente o ambiente (mais tarde saberemos que o projeto arquitetônico não deu certo).
O show: 18 chutes, na cara!!! CDC, ora na frente, ora perdido no meio da galera. Havia uma moça da cidade com a pomba-gira que sabia as letras de todas as músicas (ou pelo menos soltava uns grunhidos no tempo certo), contribuindo muito na “execução do set matador”. O quarteto mandou todos os “sucessos das rádios”, com uma precisão de navalha afiada. A galera batia cabeça com toda a energia restante, apostando saúde e virilidade nas rodas de pogo sangrento. Bom é saber que no dia seguinte todos deverão estar com os pescoços no “colar cervical”. CDC Kid era puro entusiasmo e mostrou que continua com toda a energia empolgante dos shows do Death Slam. Ao tocarem Under ways, a galera enlouquecida, simplesmente atropelou o Júnior, que deslocou o ombro, desfalcando o time. Mas mesmo sem o baixo a coisa “piorou” e todos, atendendo ao chamado, “dançaram até a morte”. Na última música Revenge or Survival há a participação do noiser Teka do Noise Incorporation (Valparaíso/GO). O recado foi muito bem dado.


Próxima banda: Os Maltrapilhos. No set list: 14 pauladas!!!! Começam agradecendo à galera de Unaí pela presença e levantam a bandeira do punk rock oitentista com toda a punjência necessária. Apesar da qualidade do show que viria, o tempo da galera de Unaí chega ao fim e eles abandonam o espaço (o ônibus tinha hora marcada para sair). Mas mesmo saindo 30, a casa permaneceu cheia e o show continuou. A platéia cantando em coro afinado os sucessos maltrapilentos rápidos e pesados como bala de canhão. Assim, Hospital de Base, Punk Rock Adrenalina e os clássicos covers, completam a atmosfera punk-rock. Detalhe importante: Márcio faz questão de dedicar uma música à galera que esteve presente ao evento acontecido dias antes em Águas Lindas-GO, interrompido pela Força “bruta” Nacional, citando a frase de domínio popular: “toda e qualquer resistência será quebrada” e que ao meu ver, pode ser entendido como um prenúncio para o que viria a acontecer mais tarde. Mandam na seqüência Punk Rock Não Morreu do Lixomania, quando o “local” Sandro Neiva (ex- Murro no Olho) toma o microfone e canta esse sucesso e outros que viriam na seqüência. Resultado: punk rock de primeira em uma noite até então perfeita.


Próxima banda: Alarme que detona um set matador com seu punk HC de primeira. O já-não-tão-estreante Grilo, manda o recado que veio para ficar, pois parece que finalmente o cargo de baterista está ocupado. Nenêm e Rosemberg nos brindam com 12 sucessos de várias fases da banda e, para um show de estréia na cidade, animam e empolgam todos, que tentam acompanhar com todo o gás os refrões matadores. Covers do Cólera e Olho Seco contribuem para fortalecer a animada galera que não pára de dançar: claro que o prêmio animação total vai para Teka, o Tazoman. Poderiam ter tocado outros clássicos, mas como o batera é novo, melhor mesmo é ir devagar para não assustar. Apostamos na nova formação, pois a cada dia fica mais vigorosa e afiada.


Próxima banda: Faces do Caos. Tudo pronto? Pode começar? Então... chega a polícia, um destacamento de 2 viaturas e 10 “puliça”, com a alegação de que vizinhos reclamaram do barulho e que ultrapassamos os decibéis permitidos... Acabou! Levaram para delegacia o produtor do evento, sob protestos de uma multidão, com direito à “fala grossa” de Tomaz, Juliano, Sandro e simpatizantes que resolvem ir à delegacia protestar contra a detenção provisória do produtor e cancelamento do show... Isso poderia ser tudo, afinal resolveu-se a situação e partimos de volta para casa. Mas alguns fatos difíceis de serem compreendidos aconteceram na viagem de volta. Não sei como abordar o assunto no momento, mas sinto que precisamos urgentemente esclarecer alguns detalhes essenciais para que mais viagens aconteçam e que reine a paz e a harmonia entre nós, que tanto pregamos em nossas letras sobre valores etc.

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