sexta-feira, março 07, 2008

Bomb It - The Movie (Trailer 1)

Obs: a banda de hardcore Brasiliense ARD participa da trilha sonora deste filme. Bomb It é o primeiro filme confirmado para o CINE CHAOS Mostra de cinema e video independente .


A bomba da contra-cultura
Bomb It é provocador ao discutir a expansão do grafite e sua eficiência como arma de protesto

JULIO LAMAS ESPECIAL PARA O SITE FINO DA MOSTRA

A pichação não é tema incomum na história. É sabido que os romanos pichavam os muros cidade com gravuras que parodiavam a vida de aristocratas e políticos. Os gregos deixavam mensagens nas colunas do Parthenon, algo que, infelizmente, alguns turistas vândalos fazem até hoje nos ricos sítios arqueológicos. Sem falar dos nazistas que pichavam a casa dos judeus, simplesmente para facilitar a perseguição da SS e da Gestapo. E quando Reagan disse "Tear down this wall", lá estavam pichadas mensagens clamando por integração e liberdade.

Na cultura pop, dos nomes nos banheiros públicos aos nomes que estão no túmulo de Jim Morrison no Pere-Lachaise, em Paris. Na política, quando picham "viva la revolución" nas ruas da Havana de 1960, ou "fora Bush" nos prédios da Paulista nos dias de hoje, lá está. Até Costa-Gavras faz referência à pichação em Z (1961), quando manifestantes estampam a letra que simboliza "ainda vive" no asfalto, protestando contra a ditadura militar na Grécia.

E para mostrar isso, e ir além, Bomb It aborda a pichação, também como criação artística de vanguarda, o mal compreendido grafite.

Ao retratar o peso do grafite como questão para o debate público nos espaços urbanos contemporâneos, o filme elucida a sua propagação como forma de expressão e auto-afirmação. Além disso, propõe uma rasa análise das grandes metrópoles mundiais e suas contradições sociais na era da globalização.

Inicialmente, o documentário conta as origens do grafite como forma marginal de expressão na história moderna. Nos Estados Unidos, por exemplo, as pichações aparecem a partir do fim do século XIX e começo do século XX, com a vinda de imigrantes irlandeses e italianos que formavam gangues e usavam a pichação para demarcar seus territórios de controle, como acontece até hoje. Desde então, a pichação e o grafite estão associados à ascensão da criminalidade e ao vilipêndio do espaço público. Bomb It mostra como reacionários condenam o grafite para exercitar sua xenofobia e classicismo contra as minorias pobres.

Esse passado criminoso do grafite, a pichação, impede, até hoje, a sua legitimação como arte pela parte conservadora das sociedades modernas. Em Nova York e Los Angeles, o grafite ainda é combatido como crime, reprimido nas ruas e nas estações de metrô. No entanto, é evidente a sua consolidação como identidade, tanto cultural como comercial através da música e da moda hip-hop. O grafite lentamente ocupa espaço no capitalismo e nas galerias de arte.

Bomb It mostra como o grafite adquire diferentes facetas em outras cidades. Em Barcelona, assim como em Amsterdã, os grafiteiros sentem a necessidade de prosseguir com as evoluções estéticas atribuídas a compatriotas no passado. Na Cidade do Cabo, capital África do Sul o grafite se tornou num ponto de integração entre brancos, negros e crioulos, após o Apartheid. Em Tokyo, no Japão, onde o espaço público é sagrado, tenta-se colocar em pauta as questões da autonomia feminina e da emancipação cultural de maneira discreta, quase escondida.

Já a São Paulo apresentada em Bomb It é um caso a parte. A cidade é retratada como é: sem ordem e caótica. O grafite aqui se torna mais um reflexo da nossa famosa “desigualdade”, um prato cheio para os pragmáticos de plantão. A máxima fica por conta dos artistas Os Gêmeos, que ressaltam o axioma paulistano de que "aqui não se vive, se sobrevive".

O documentário provoca a excitação do público com a sua trilha sonora que vai do hip-hop e electro ao hardcore de Rage Against de Machine, aumentando e dialogando com grande impacto visual garantido pelos melhores artistas do grafite no mundo. Bomb it é uma pequena surpresa na 31ª Mostra, e um dos poucos filmes que vi sendo aplaudidos no final da sessão.

BOMB IT
(Bomb It, EUA)
Direção: Jon Reiss
Perspectiva 2007 94 min

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