sexta-feira, outubro 05, 2007

Face do chaos no Correio Brasiliense

Gamados no rock
Dois festivais neste fim de semana destacam a força da cena fora do Plano Piloto com atração internacional e dobradinha de shows dos veteranos do A.R.D.
Daniela Paiva
Da equipe do Correio
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Os olhos egocêntricos do Plano Piloto podem até não enxergar para fora do eixo. Mas, enquanto Brasília ainda titubeia na reapropriação do bastião de capital do rock, o Gama luta para conquistar os próprios títulos. Aliás, já se fala em um deles: “O Galpãozinho é o CBGB (antigo reduto punk de Nova York) do Gama”, arrisca o produtor Amarildo Adriano. O fato é que a cidade faz a sua parte. “Chego a sonhar que a gente está vivendo um grande revival do Gama nos anos 1980, quando aqui era um caldeirão de produção cultural que movimentava todo o Distrito Federal”, vislumbra Gilmar Santos, vocalista do A.R.D..

A veterana banda de protesto é a atração dos dois festivais que chacoalham o Gama neste fim de semana. Amanhã, apresenta-se ao lado dos finlandeses do Rattus, que vêm pela primeira vez a Brasília, e das conterrâneas Into The Dust, Terror Revolucionário, Os Maltrapilhos e Besthöven, no Galpãozinho, pelo Festival Face do Chaos. O evento começa às 17h e os ingressos custam R$ 10 (antecipados) e R$ 15 (na hora).

O A.R.D. lança o primeiro CD, Síndrome de emputecimento progressivo, e no dia seguinte repete, na oitava edição do Festival Rock Cerrado (a partir das 15h, no estacionamento do antigo Supermercado Champion, com entrada franca), o discurso focado nas questões sociais. Tocam também 10Zer04, Kábula, Cromonato, Lúpulos e Cereais Não Maltados, Faces do Caos, Magna Speel, Black Bulldog, Bruto e, mais uma vez, Into The Dust.

Gilmar, 43 anos, enumera outras iniciativas que representam o aquecimento da cultural local, como as produções teatrais, os motoclubes e o retorno do grupo Os Parasitas. Não, eles não são uma banda, ainda que, até hoje, desde que foram criados, há mais de 20 anos, muitos confundam a ação do coletivo Os Parasitas na ribalta com o palco. “Ninguém toca nada, no máximo um acorde”, brinca Carlos Trindade, 39. “Eram só uns caras que se juntaram para curtir rock n’ roll e com vontade de fazer eventos para isso.” Em 1986, Os Parasitas – com integrantes de dois grupos de teatro – produziram o 1º Rock Cerrado do Gama, que reuniu mais de 2 mil pessoas.

O coletivo chegou a ser formado por 40 pessoas, mas configurou um núcleo de oito produtores ativos, que sacudia o Gama até com concurso de beleza. “Produzíamos excursões, teatro, música, tínhamos vários projetos nas escolas, outros festivais”, enumera Carlos, que se orgulha de, num festival, ter “lucrado” a ponto de arrecadar dinheiro para comprar um saquinho de leite e oito pães. “O primeiro Cerrado do Gama foi em cima de um palco de madeira que construímos em menos de 40 horas na base de algumas vodcazinhas.”

Trabalho e família levaram Os Parasitas a transitar por outras atividades a partir de 1992, mas os amigos nunca deixaram de dividir copos nos botecos da cidade. Em 1998, um dos integrantes, Genival, o Dragon, morreu. O grupo resolveu homenagear o amigo e retomar a produção cultural depois de muita insistência de um novo Parasita, Marcos Paulo, da banda Black Bulldog. “Ele freqüentava todos os festivais quando tinha 12, 13 anos. Dizia que um dia iria tocar no Rock Cerrado”, afirma Carlos.

Nuvem branca
O retorno ocorre, pelo visto, em boa hora. “Apareceu uma nuvem branca no Gama e pairou. Tudo acontece por aqui. As pessoas pararam de esperar, tem muita banda. Pensamos que apenas 10 se interessariam pelo festival, mas recebemos mais de 50 inscrições.” O festival mantém o objetivo anterior: abrir o palco para novatos e convocar os que estão na estrada há algum tempo. “Melhorou, mas ainda falta espaço”, avalia Carlos.

Para Amarildo Adriano, 36, que produz o Face do Chaos junto com A.R.D. e o coletivo Caga Sangue, o CBGB do Gama faz a diferença, pois está ao lado da rodoviária, o que facilita o acesso a moradores de todas as cidades, abarca uma platéia de bom tamanho, de até 400 pessoas, e não oferece custo aos produtores. No entanto, ele aponta que o cenário musical nunca se apagou. “Aqui há uma cena grande e diversificada. Nunca deixou de ser um pólo cultural. O problema das satélites é que o Plano Piloto é mais visível aos olhos da imprensa”, alfineta.

Amarildo cita a banda de um homem só Besthöven, com discos lançados em diversos países da Europa e apenas um LP no Brasil, como exemplo da produtividade local. O Besthöven existe há 17 anos. Os brasilienses terão rara oportunidade de ver o solista Robson Fofão no palco no Face do Chaos. “Uma vez por ano eu junto os amigos para tocar”, diz Fofão, 32, que exporta o crust do Besthöven para o mundo. O que uma porção brasiliense não vê, outros capturam bem aí afora.

FESTIVAL FACE DO CHAOS 4ª EDIÇÃO
Show com a banda finlandesa de hardcore Rattus. Participação das brasilienses Into The Dust, Os Maltrapilhos, Terror Revolucionário, Besthöven e A.R.D. Amanhã, às 17h, no Teatro Galpãozinho do Gama.
Ingressos: R$ 10 (antecipados) e R$ 15 (na hora)
ABRIU PRO ROCK (GAMA)
BERLIN DISCOS (CONIC)
PORÃO 666 (TAGUÁ).


FESTIVAL ROCK CERRADO 8ª EDIÇÃO
Show com as bandas 10Zer04, Kábula, Cromonato, Lúpulos e Cereais Não Maltados, Into The Dust, Faces do Chaos e as convidadas Magna Peels, Black Bulldog, ARD e Bruto. No domingo, a partir das 15h, no estacionamento do antigo Supermercado Champion (Gama). Entrada franca

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