quinta-feira, maio 15, 2008

Marina Silva, uma questão eco-lógica



Era uma vez, uma menina franzina que vivia em Xapuri, embrenhada num seringal... Adoeceu, convalesceu e lutou pela saúde de seu quintal. Toda a Amazônia.

Como um Garrincha, driblou todas as adversidades. O analfabetismo, a invisibilidade, a fome de comida, que ela sentia, e a fome que os madeireiros sentiam pelas riquezas da floresta. Estudou, fundou sindicato, lutou pela dignidade e pela cidadania de seus iguais, foi parceira de Chico Mendes e se configura como uma mártir viva. A única mártir viva da história.

Quiseram-na Mãe do PAS. Mas ao invés do PAS do desenvolvimento ela preferiu a paz de seu engajamento. Preferiu perder a cabeça a perder o juízo crítico. Marina acredita em desenvolvimento sustentado. Tese insustentável para os predadores que marqueteiam inférteis transgênicos, latifúndicas monoculturas, a pecuária dos Caimistas, escravagismo torpe, a devastação da floresta e assassinatos de seres humanos.

Lula foi formado em porta de fábrica, na grande São Paulo, claro que sua cosmovisão foi formatada pela vontade de crescer e se desenvolver, e nisso ele tá muito certo. E nisso ele triunfou, tornou-se Presidente da República e fez com que o Brasil deixasse de ser o país do futuro para ser um país no futuro. Lula abriu mão de estudar porque acreditava demais no trabalho. No entanto, Marina veio do seio da floresta, também acreditava em desenvolvimento e crescimento, por isso estudou, se formou, virou Senadora da República e Ministra do Meio Ambiente, que ela deve chamar intimamente de meu ambiente. São duas cabeças, a dela e a de Lula, movidas pelo dínamo do desenvolvimento e do crescimento, mas são duas cabeças que assimilam uma práxis muito diversa. Marina Silva prefere a holopraxia e a transversalidade. Lula da Silva, a pragmática mais telúrica, mais chã.

Uma vez escolhida para o ministério, o mundo inteiro gritou onissonamente: Marina Salva! O mundo achava que Silva salvaria a selva. Porque Marina Silva tem seiva no sangue. Quando Marina Silva, silvam todos os bichos das matas. Eles falavam a mesma língua. Agora, parece que por lá vingará um outro idioma: a língua que fala o Taradão: matar e desmatar; mandar e desmandar. A ministra pediu pra sair. No senado (a senadora mais votada pelo Acre), lutará contra o lobby dos magnatas da terra alheia, dos sheikes da destruição. . . Entretanto, assistimos a uma ocasião rara na história da nossa república: uma ministra que sai de cabeça erguida. Marina já é uma das mulheres mais notáveis do Brasil no século XXI. O resto é mato. . . . . . .

Lelê Teles, Brasília.

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